Agosto

Passou-se um ano

“Por seres mais que a simples aventura
E menos que a constante namorada
Por não te possuir, tendo-te minha
Hei de lembrar-me sempre com ternura”

(Vinicius de Moraes - soneto da quarta-feira de cinzas…)

Dia desses a minha mais nova amiga de infância, Rafaela, encontrou-me a padecer de amores com Vinicius e, a como além de mim, só ela é tão amiga do Mário, perguntou-me logo o que eu andava fazendo com aquela pessoa inconstante e fugás.

- É que o Mário entende de mim, mas de amor quem entende é o Vinicius.

É, a Rafa conseguiu fazer-me sentir mal por ter abandonado o Mario para extasiar-me em amores que se diziam efêmeros... Mas o que deveria eu fazer se só com ele e sempre e tanto, o meu espírito transborda de um amor tão infinito, que me faz trocar a eternidade por mais uma noite.

Justifico porém que está errada a minha amiga ao julgar novo este apresso. Ele já estava assinalado nas páginas de minha agenda a partir o oitavo mês do ano passado, quando Teresina comemorava o seu aniversário de 155 anos e hospedava a Feira dos Municípios, para a qual eu não iria nunca , afinal, só quem vivencia a gincana “Teresina, meu amor”, sabe o que é.

Adélia sabe o que digo: Vinicius espalha sonhos por onde passa e será sempre dele o mês e o SONETO DE AGOSTO...


Ternura

Eu te peço perdão por te amar de repente
Embora o meu amor seja uma velha canção nos teus ouvidos
Das horas que passei à sombra dos teus gestos
Bebendo em tua boca o perfume dos teus sorrisos
Das noites que vivi acalentado
Pela graça indizível dos teus passos eternamente fugindo
Trago a doçura dos que aceitam melancolicamente
E posso te dizer que o grande afeto que te deixo
Não traz o exaspero das lágrimas nem a fascinação das promessas
Nem as misteriosas palavras dos véus da alma...
É um sossego, uma unção, um transbordamento de caricias
E só te pede que te repouses quieta, muito quieta.
E deixes que as mãos cálidas da noite encontrem sem fatalidade o olhar extático da aurora.

(Vinicius de Moraes )