E foi assim, pulando a janela da sala, no finalzinho da tarde, que ela deixou para trás os sonhos que não teve, o homem que não amava e a vida que não queria. Saiu sem levar uma muda de roupa ou um pedaço de pão. Nada que pudesse denunciar a sua falta ou lembra-la de tudo que acabava de deixar.
Na moça, nem um traço de beleza sequer: cabelos russos, unhas quebradas, boca rachada e olhos tão frios que contrastavam com o calor da região e era magra, horripilantemente magra. Aos treze, tinha a pele torrada de sol e mãos sofridas da lida, certeza única de cada dia. Aos quinze sonhou ser borboleta e querer pra vida um pouco além dos fétidos baldes de roupa e das botas sujas de merda.
Naquele mesmo dia saiu sem olhar para trás e assim seguiu por toda a sua jornada. Sem dinheiro, sem roupa, sem sapato, vestida apenas em xitas, suas asas coloridas. Saiu sem saber para onde iria.
Enquanto andava, lembrava o cheiro das ruas de sua pequena cidade. Depois de casada já não pisava por lá nem mesmo em dia de missa. Pelo caminho catava pedrinhas brilhantes e relembrava seus sonhos de criança: os vestidos floridos, as festas, o mar... tudo lhe fora arrancado por um casamento arranjado e por um homem infeliz que nem um filho era capaz de lhe dar.
Não sentia tristeza sem saudade, muitos menos arrependimento. Em pleno vôo, dançava, cantava e levantava poeira na estrada enquanto enchia seus bolsos pedras e a cabeça de sonhos que catava pelo chão.
E foi assim, com a as mãos cheias de pedras e a cabeça cheia de sonhos que o caminhão a encontrou, bem na curva, pouco antes da entrada da cidade, onde hoje esta fincada uma cruz, servindo de aviso às mocinhas com alma de borboleta. E estas, por crendice ou por teimosia, costumam depositar seus sonhos, feitos pedra, ao pé da cruz, na curva, hoje curva da borboleta.
Não sei se é verdade, mas contam que o fato aconteceu mais ou menos por essa época, no carnaval de 36.
Fábia, depois de tantos anos, e tantos planos, eu não sei o que pensar, nem o que dizer.
ResponderExcluirTá escrevendo demais.
Teu fã.
Primaaaaaaaaa, Sirsiiiiiii eu tenho pena da tua professora de Português da Faculdade, ela era cega, ou não tinha nenhuma poética, ou era burra, ou mal amada, ou derrotista, e com toda certeza derrotada!!!
ResponderExcluirVc não escreve, vc faz poesia, além do mais as coisas que vc escreve são atemporais meninas, vc é anacrônica.
Lamento informar a sua professora de Português, que até quando vc escreve amenidades, é poesia pura, pena que ela não guarde as cartas que vc fez pra mim, lembra? Foi ali que eu descobri que mais do que minha prima você era a minha alma gêmea siamesa. Feliz de mim, que sempre achei seu texto de ótima qualidade, é como vinho, quanto mais velho melhor.
Orgulho de vc. Bjão.
É que algumas meninas não percebem que é melhor ficar no casulo por um tempo, saem por aí voando de qualquer jeito e aí... pimba! Paciência é uma virtude, dizem os sábios! Lindo texto, beijos...
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