quinta-feira, 31 de julho de 2008

... Por esta noite (trilogia)

O tema é recorrente , já o assunto conta com oito semanas...
mas hoje eu lí isto:


Governador visita obras de urbanização da Pedra do Sal


E me lembrei que em 28/05 fiz isto:



A Eternidade de um Por-do- sol

Tètis, a mais linda das ninfas marinhas, podia ter qualquer um dos homens que habitam o planeta na terra, no céu ou no mar; mas naquela noite triste desejou, mas que a própria vida, o amor daquele simples mortal que vivia a catar conchas a beira do mar para fazer presentes a sua mulher. Mais que a ele; desejou a ninfa o brilho dos olhos daquela a quem ele idolatrava. Queria sentir o sorriso alheio e viver uma vida que não era a sua...

Tétis poderia apenas tê-lo encantado com sua voz, mais não; com o capricho que é próprio da fêmea, quis conquistá-los e, por força e vontade próprias da presa, levá-la ao fundo do mar.

E assim o fez, por tardes e noites cuidou de encontrá-lo e se fazer companhia nas andanças pela praia. O mortal, envaidecido de tão formosa companhia, ignorou a existência de sua mulher e, por fim, sucumbiu ao prazer da mais cruel e infeliz das canções, sendo levando para o fundo do mar.

À sua esposa, restou-lhe apenas acompanhar das pedras ao fim do dia o mergulho que levaria para sempre o seu marido.

Dali em diante a triste esposa esperava a hora exata em que o sol tocava as salgadas ondas e cantava, com todas as suas forças, pedindo ao mar que lhe trouxesse o amor de volta.

E foi numa tarde assim, entre tantos outros dias que, tocando a sua harpa e brincando de mortal pelas areias da praia, Palêmon ouviu um som como saído das teclas de um piano e viu então uma moça sentada na mais alta das pedras da praia. Percebeu então que o encantador som vinha das lagrimas que escorriam pelas pedras e findavam no mar.

O deus sentiu-se tão tocado com a visão que não precisou sequer de uma das flechas do cupido para sentir o coração arrancado do peito e arremessado aos pés da pedra que se fazia torre para aquela mulher.

E daquele dia em diante também ele passou a acompanhar o pôr-do-sol daquela ilha, só para ficar, o tempo do adormecer do dia, a olhar para aquela bela criatura.

O jovem deus amou em si o amor; vivia apenas pra amor o amor da amada. Ele, que em silencio chegava, sentava-se ao fim das pedras e tocava a sua harpa, fazendo uma doce sinfonia com as lágrimas da chorosa, que ficava sempre no mesmo local até a lua aparecer. Então eles se despediam com um olhar molhado e o coração cheio da dor do adeus.

Com o tempo, o encontro dos amantes virou um encantamento a quem passava por aquela praia tão distante, tocando até mesmo o coração de outros deuses que também tinham naquela ilha um recanto do prazer.

Eles poderiam ter ficado daquele jeito por toda uma eternidade; mas como só o mais sincero dos amores é capaz de fazer, lutando contra seu egocetrismo e triste com a tristeza de sua amada passou o jovem a interceder por ela na profundeza das águas.

Como tinha forte influência entre os deuses, acabou por convencer Netuno a expulsar o pobre mortal do mar, o que desencadeou a fúria de Tétis; mas para evitar vingança, Palêmon a ela prometeu, do cupido todas as flechas que desejasse, garantindo ainda que ela jamais ouviria um não de mortal ou divindade.

Já desencantada do amante mortal, Tétis concordou com o escambo e fez com que o homem saísse do mar.

Mais estranha foi reação de moçachorosa, que ao ver de longe aquele rosto tão conhecido, se jogou ao mar e passou a gritar, o mais forte que podia, para que as águas levassem de volta o que devolviam.

Geral foi o estranhamento dos envolvidos. E todos se perguntavam o por quê da reação. Foi então que Palêmon chegando perto da moça e disse:

- Não tenha medo! Durante esse tempo ele esteve preso no mar, mas está vivo e de volta aos para os seus braços.

- Não, por favor, não pode ser - retrucou a mulher com o rosto coberto de lágrimas - por favor, mar, leve-o de volta, não me faça ainda mais infeliz do que já fui. Deixa-me com o fim da tarde que tenho e que me faz tão bem.

Com a sutileza que só é dada às mulheres, Tétis mandou de volta o mortal para as profundezas e só ela entendeu que a mulher já não chorava pelo marido tido morto, mas sim para manter bonitos os acordes da harpa do deus do mar.
Irada, virou-se para o deus e o amaldiçoou:

- Pela minha a tua felicidade. Mesmo sabendo que é a ti que ela ama e por ti que chora, não ficarás com ela e sim comigo.

Naquela exata hora fez-se um silêncio sepulcral. Nem uma onda, nem uma gaivota, nada nem ninguém se mexia a não ser o deus e a mortal, que se abraçaram e choraram juntos as mesmas lágrimas.

-Näo é justo, não é possível, como posso ter me enganado tanto. Amei-te desde a primeira vez, chorei a tua dor e me compadeci de ti. Do meu amor fiz oração pela tua felicidade- disse deus.

- Não é justo, não é direito, amei-te desde a primeira vez que o ouvi tocar. Quis-te perto pelas a razão e motivos que fossem, chorei o mais triste dos choros para fazer ainda mais belas as tuas músicas e ter-te comigo ao menos pelo tempo de uma canção.

Nesta hora saem de uma nuvem Eros e Psique, que tendo ouvido toda a história, decidiram interceder pelo amor dos dois.

- Nada podemos fazer em relação ao acordo que fizeste com Tétis, querido amigo- disse Eros- podemos, no entanto, como testemunhas e padrinhos deste amor tão puro, presenteá-los com a mais triste das horas do dia. Assim, por este momentos que já são seus, poderão, enquanto o sol iluminar estas pedras, ficar juntos até que o findar do dia os separe. Tu, Palêmon, voltarás para o lado de Tétis e tu, mulher, voltarás a ver teu amado seguindo para o fundo do mar por todas as noites de tua vida.

Triste mas resignados, os amantes aceitaram e agradeceram o presente . E como mandaram os deuses, os amantes o fizeram ao findar de muitos e muitos dias e continuarão a fazer até o fim da eternidade.

E é por isso que para alguns, ao fim da tarde, é como se tudo parasse e permanecesse em silencio naquela praia. Já aqueles que amam de verdade podem ouvir aquela melodia tão linda e pura quanto cheia de amor, vinda da harpa do deus e das lágrimas da mortal, que agora desce lá do alto dos céus para chorar nas mesmas pedras, deixando ainda mais salgadas as águas daquela praia que hoje se chama Pedra do Sal



Por-do-sol na Pedra do Sal

Parnaíba-PI

Maio de 2008

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