domingo, 27 de julho de 2008

A menina e o passarinho

"Canta, canta passarinho,
canta, canta miudinho
Na palma da minha mão
Quero ver você voando,
quero ouvir você cantando
Quero paz no coração
Quero ver você voando,
quero ouvir você cantando
Na palma da minha mão"
(Canta Coração- Geraldo Azevedo/ Carlos Fernando)


Quando o cachorro da menina fugiu de casa, ela ficou tão tristinha que o pai achou por bem dar a ela um outro bichinho. Para evitar ensiná-la que um ser pode substituir o outro, escolheu dar um passarinho.
Então o pai comprou um sabiá, gaiola, alpiste e pequenos depósitos para a água e comida. Depois, orientou a filha a manter limpa a gaiola e ter cuidado para não deixar a portinha aberta. Então, pendurou a gaiola na varanda e disse:
- Cuide bem e ele terá sempre lindas canções pra te ensinar.
Na primeira semana a menina fazia questão de, além dos cuidados, passar horas e horas escutando o canto do passarinho. Por vezes deitava no chão e cochilava envolvida por aquele “cantinho”. Com o tempo, aqueles momentos foram ficando cada vez mais raros como se o canto do bichinho já tão fosse assim tão encantador.

No segundo mês, com certa freqüência, a pequena esquecia de trocar a água ou colocar alpiste e também já não mantinha tão limpa a morada do passarinho. Alheio a tudo, o passarinho apenas cantava lindas canções de amor que pareciam ficar ainda mais belas quando se aproximava a menina.
O pai acompanhava tudo de longe, sem interferir em nada. Até que um dia percebeu que a menina estava deixando a porta da gaiola aberta. Então ele foi lá e fechou.

No dia seguinte, a menina voltou a deixar a gaiola aberta e o pai voltou a fechar, mas desta vez, repreendeu a garotara e a lembrou que, por descaso ou descuido, ela já havia perdido aquela cãozinho. Ao que a menina muito malcriadamente respondeu:

- Se foi embora é porque nunca o tive! Há, pai, o senhor nunca leu “O pequeno príncipe”, não?
Naquele dia o pai calou-se e voltou aos seus afazeres, mas percebeu que a filha deixara de ir até a varanda e se preocupou com o passarinho.

O passarinho, sempre cantando e ainda mais feliz a sentir a presença da menina, mesmo que a vendo apenas da janela no quarto ou na casa do vizinho.

A menina ouvia triste o canto do passarinho na gaiola, pois amava o bichinho e de tanto ouvir dos amigos que pássaros em gaiolas são infelizes, o queria livre e feliz, mas não tinha coragem de soltá-lo simplesmente e muito menos mandá-lo embora, então apenas desejava de todo o coração que ele voasse dalí para bem longe.

Sem procurar entender nada e cansado do desprezo da filha pelo animal, o pai resolveu dar nela, de vez, uma lição: Vendo que o passarinho não saía da gaiola, pegou ele mesmo o bichinho e soltou.

Naquele mesmo dia a menina, percebendo o silêncio, sentiu um medo terrível de abrir a porta da varanda. Não era o fato de o passarinho poder estar lá ou não que a incomodava, mas sim a possibilidade de ele estar, e morto. Foi aí que ela realmente soube o quanto amava aquele bichinho e que o preferia longe pra sempre que triste com ela.

Vendo aquilo o pai se pôs a acompanhar...

Com o coração na mão a menina pegou uma cadeira na sala, abriu a porta da varanda bem devagar e se dirigiu à gaiola. Subiu na cadeira, olhou toda a gaiola e... sorriu.

-Mais como? Esta feliz porque o seu passarinho foi embora, filha? - Perguntou o pai.
- Não, primeiro estou feliz por ele não estar morto. Pois sabia que, ao abrir a porta ele poderia estar vivo o morto, mais ainda assim abri. Estou feliz e orgulhosa de mim e muito feliz por ele estar livre!

Com essa, o pai entendeu que era melhor não entender certas coisas, tirou a gaiola da varanda e já ia saindo quando a filha o segurou pela mão e disse:

-Pai, obrigada!

- Pelo que? Por tirar a gaiola da varanda?

- Por tudo que fez e principalmente pelo que não fez!

O que o pai não sabia era que todos os dias que a gaiola ficava aberta o passarinho ia dormir quietinho pousado lá em cima da casinha de bonecas da criança.

Eu Não Sei Deixar Você Tão Só
Eu não sei deixar você tão só
Me dá um dó de mim,
Eu não sei deixar você assim,
Sinto um vazio no meu ser.
Eu não sei lembrar de você décor,
Me dá um nó no fim,
Tenho medo de dizer que sim,
Mas eu não consigo esconder...
Que eu te quero mais,
Que eu não fico atrás
Desse teu imenso querer
Que eu não tenho paz,
Que eu te sinto mais quanto mais
Me oponho a te ter,
Teu silêncio guardo preso em mim,
Fecho os olhos, tento esquecer.

(Vavá Ribeiro )

PS:
Rubem Alves escreveu um assim

2 comentários: