sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

OS ESPELHOS

Para minha amiga e grande mulher, Karinne Katiuzia
Torcendo para que um dia você possa se enxergar
Como a vejo em meu coração!
Era Uma vez

Em um reino nem tão distante, uma rainha muito digna e correta, que muito se preocupava em dar sempre exemplo a seus súditos. Ela era também muito bela, e por isso muito invejada e mal falada pelas mulheres da corte, que não sabiam o quanto ela sofria para permanecer assim tão bela.

Certo dia ela chamou os seus conselheiros e ordenou:
-Quero que meus súditos possam acompanhar o meu dia, assim poderão entender o que faço e como faço para então fazerem igual, ou diferente, se preferirem. Desejo então que seja construído um castelo do mais fino vidro.

Ela ordenou e assim foi feito sem questionamentos.

Os súditos acompanharam o erguer das paredes sem muito entender, mas com o final dos trabalhos, todos ficaram a elogiar a obra:

- Como é bela e honesta a nossa rainha, nada tem a nos esconder! Exclamavam todos. Então passaram horas a observa-la.
Com o tempo, porém, não se podia passar todo o dia a olhar para a rainha, então, como é típico dos mortais, cada pessoa passou a avaliar as ações da rainha pelo pouco que viam:
- A rainha só dorme! Cometavam os que so passam bem cedo.
- a rainha só come! Como não engorda? Diziam os que passaram ao meio dia.
- Que insensível, a rainha sempre que olho, há qualquer hora, so trabalha!
- Não é justo ser tão bela se nem trata os cabelos...
E ouvindo esses comentários a rainha ia entristecendo, pois por mais que fizesse, seu publico não tinha como observar o passar das oras e suas diferentes tarefas, pois através do vidro, todas as horas eram iguais.

Então teve ela uma idéia:
- Ordeno que façam um castelo de gelo, que seja reconstruído todos os dias, pois assim, aqueles que olharem saberão, com o derreter do gelo, que as horas se passaram e as tarefas mudaram.

Ela ordenou e assim foi feito!

Como da primeira vez os súditos foram avisados das intenções da rainha e passaram a elogia-la novamente:

- Como é honesta a nossa rainha, nada tem a nos esconder! Exclamavam todos.

Por algum tempo os súditos comentavam que quando o teto derretia ela ainda trabalhava e quando apareciam as estrelas, ela se deitava, mas com um tempo passaram a observar o desleixo da rainha em relação a limpeza do castelo: o chão parecia sempre molhado, os pobres funcionários viviam num serviço sem fim: enxuga o chão, troca as roupas, constrói o castelo. E alguns começaram a comentar o quanto a rainha era egoísta e convencida.
- Ela so quer se mostra! Diziam Uns
- Ela so deseja mostra que pode construir tantas casas queira! Diziam outros
- ela vive o frio enquanto vivemos no calor! Comentavam ainda outros.
Com os cabelos sempre molhados e os vestidos úmidos a rainha já não parecia tão bonita e nem tão honesta e muito menos zelosa como antes...
Percebendo isso a rainha entristeceu e, por fim, mandou chamar uma velha senhora muita sabia, que vivia no fundo da floresta.
- O que devo fazer boa senhora, gostaria que meus súditos se orgulhassem de mim pelo que faço. Queria que reconhecessem o trabalho que desenvolvo e as tarefas que tenho, para então desfrutar de meus bens conquistados por merecimento, entre elas a minha beleza.
A velha senhora ouviu tudo pensativa e então falou:
Entendo a sua intensão, mas não deixo de pensar por que a necessidade de provar sempre alguma coisa aos outros, mas se é agradar aos outros que queres, aconselhos que paredes não sejam de vidro ou gelo, pois a exposição excessiva nunca há de fazer bem a todos os olhos.
Construa então paredes com algumas janelas, e espalhe muitos espelhos por toda a casa, assim, antes de passar por uma janela você deve avaliar o que eles verão e assim se corrigir, pois uma rainha deve estar sempre perfeita, pois é isso que o seu povo espera.

A rainha assim o fez, e dia após dia se arrumava frente ao espelho para passar por alguma janela. Começou a gostar do que via, como via, passou a arrumar-se menos para os outros e mais para si, sabendo o que gostava e o que a fazia bem.

Como tempo, começou a admirar-se, frente ao espelho, gastar tempo contemplando-se, amando-se... e assim esquecendo as janelas, as portas, os vidros e viveu feliz no seu mundinho.

Quanto a seus súditos, eles continuaram falando, ora bem, ora mal, mas a rainha se sentia deveras amada, pois agora, mais que amada por seus súditos, ela era amada por si mesma.
Ela se bastava!

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